O próprio mito de criação do Japão faz referência a dois seres divinos, Izanagi e Izanami, que agitam o mar com suas lanças para formar seus descendentes, naturalmente amalgamados com as ilhas. Nesta exposição da artista Kimi Nii, esse mito de criação é evocado em recentes peças com formas primordiais semelhantes às ilhas.
O embrião dessas ilhas, porém, não vem do gesto voluntarioso dos deuses, mas da mudança do estado físico das nuvens. Da passagem do estado líquido para o sólido, ou seja, da interação entre céu e terra, surge a argila, que vira cerâmica, que se transforma em arte. Tanto as “nuvens” como as “ilhas” de Kimi Nii, exemplos mais recentes de sua escultura, retomam a assimetria e irregularidade das formas orgânicas, após a conquista da geometria com a qual triunfou a modernidade.
Kimi preservou o essencial da cultura onde nasceu, abraçando a contemporaneidade brasileira. Essa fusão Oriente-Ocidente se dá pelo reconhecimento de que a ruptura, paradoxalmente, só é possível pelo respeito às tradições. Esta retrospectiva é uma reavaliação do legado modernista e do estatuto da cerâmica como escultura.
Locais e datas de realização:
Caixa Cultural – SP – 3 de Agosto a 5 de Outubro 2014
Centro Cultural Correios – RJ – 17 de Dezembro de 2014 a 22 de Fevereiro de 2015